quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Tão firme quanto uma estaca podre no brejo


Ao longo de seus 41 anos, Elevado do Joá já passou por vários problemas
Nesta última semana, muito se tem falado sobre a situação calamitosa que se encontra o Elevado do Joá, principal ligação entre a Barra e a Zona Sul do Rio. Porém, este problema não é novo. Em 05/12/2012, nós, do blog Rio: Cidade Olímpica, publicamos uma matéria apontando os problemas e cobrando soluções. Esta matéria ainda é uma das mais lidas em nosso blog.
Como os problemas só pioram, resolvi republicar a matéria para mostrar como tudo continua na mesma situação. Leia, a seguir, a matéria.

Estruturas de ferro já estão à mostra. O medo e o perigo são constantes.
Lembro-me como se fosse hoje: fui à uma consulta de rotina com o meu ortopedista. Chegando lá, reclamei minhas dores e falei o que estava sentindo. O médico passou uns exames que foram feitos prontamente. De posse dos resultados, voltei ao consultório e ouvi a seguinte frase: "Ewerton, suas pernas são tão firmes quanto duas estacas podres no brejo". Isso nunca mais saiu de minha cabeça. Hoje, ao escrever esta matéria, usei esta frase dita pelo meu ortopedista para dar o título à esta matéria.
O Elevado do Joá, principal via de ligação entre a Barra da Tijuca e a Zona Sul do Rio, vem enfrentando sérios problemas. Após 40 anos de lutas contra a corrosão provocada pelas marés e pela infiltração da água da chuva, toda a estrutura em concreto armado que sustenta os 1.100 metros estão comprometidas. Quem afirma é o estudo feito pela Coppe/UFRJ. Segundo o relatório, a situação é gravíssima, com risco de colapso, embora seja impossível dizer quando isso acontecerá. Há quatro anos o Elevado vem sendo monitorado pelos pesquisadores.
Porém, a Prefeitura do Rio, órgão que encomendou o estudo, discorda dos resultados finais e argumenta que é preciso checar outras opiniões de especialistas. Para o secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, o parecer da Coppe não pode ser tomado como definitivo. Alexandre afirma que o consórcio contratado para fazer a última recuperação estrutural do Joá teve como consultor o engenheiro Bruno Contarini, e descartou qualquer risco, desde que as estruturas corroídas fossem recuperadas.
Para o professor Eduardo de Miranda Batista e chefe da equipe que realizou os estudos, a solução possível seria reconstruir todo o elevado, fazendo uso de técnicas de engenharia modernas, que facilitem a futura manutenção. Para isso, estudos  já deveriam ser realizados, antes que a situação chegue a um ponto drásico, que exija a interdição da via. De acordo com o estudo feito pela Coppe, apenas os pilares de sustentação  (que recentemente passaram por recuperação) podem ser mantidos.
Um dos pilares do elevado. Muitos encontram-se nas mesmas condições
De acordo com Eduardo, "a corrosão é a doença crônica do Joá. Nas últimas décadas, cada vez que o elevado apresentou um problema, houve uma intervenção emergencial. É como se o médico receitasse um remedinho para reduzir a febre do paciente, mas que é incapaz de curar a doença. O que acontece agora é que esse paciente se encontra em estado grave", comparou o especialista.
No Joá, a Coppe vistoriou 840 "partes estruturais" (42,1%). Cerca de 10% delas estavam comprometidas. Concreto rachado e sinais de corrosão no ferro são fáceis de ser encontrados. A Coppe alerta que a situação pode ser ainda pior, já que, por uma falha do projeto, não há galeria de serviço que permita avaliar toda a extensão da estrutura do elevado. Tecnicamente, também não é possível usar guindastes para levantar um a um os 66 tabuleiros que formam as pistas, de modo a observar toda a estrutura.
De acordo com Eduardo Batista, há a possibilidade de reconstrução do Elevado do Joá. Isso poderia ser realizado por fases. Primeiro seria reconstruída a pista superior (sentido Barra), já que, por estar em contato direto com a chuva, está mais comprometido. Para isso, a pista inferior (sentido Zona Sul) permaneceria em funcionamento operando em mão dupla. Após o fim da primeira fase, seria feito o trabalho inverso na pista inferior. 

Novo projeto prevê a sustentabilidade, integrando uma
ciclovia e incentivando o uso de bicicletas pelos cariocas

De acordo com o planejamento olímpico Rio 2016, o Joá é uma via estratégica para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Em 42 anos de existência, esta não é a primeira vez que a Coppe detecta riscos de colapso. Na década de 80, mais precisamente em 1988, especialistas já identificaram corrosões na estrutura. Reformas foram realizadas ao custo de 8 milhões de dólares, com período de 3 anos. Neste período, o tráfego de caminhões foi proibido por diversas vezes. Há, para os próximos anos, um projeto que prevê a ampliação do elevado, com a construção de uma terceira faixa de rodagem para os veículos e a construção de uma ciclovia, em ambos os sentidos.
O Blog Rio: Cidade Olímpica torce para que os governantes consigam recuperar o Elevado, dando segurança para todos que trafegam e dependem daquela via. Além do mais, não seria justo com os cariocas e turistas deixar que se perca uma vista maravilhosa que só quem passa por lá pode deslumbrar.

Ao fundo, orla da Zona Sul e Pão de Açúcar


Um comentário:

  1. Caro amigo Ewerton, como um jovem e bom jornalista que é, e moderno, a sua matéria no blog certamente terá repercussão.
    Pelas fotos postadas, por mais que tentem atenuar suas proposições, acredito que ainda há gestor interessado na preservação de vida, e juízes, que atentarão para os riscos decorrente do desgaste neste elevado.
    Mas lembre, amigo, a estrutura ainda está resistindo, neste 41 anos, porque no passado, em qualquer obra pública, o material utilizado era para durar décadas e décadas. O mesmo não acontece nos dias de hoje, quando qualquer obra, principalmente pública, e móveis, são feitos sem uma garantia de que irá durar, no mínimo 20 anos, sem precisar de reparos.
    Ewerton, continue seu trabalho como um bom jornalista que é, divulgando informações e mostrando no blog, os problemas encontrados, para que venham a ser solucionados.

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