sábado, 27 de agosto de 2011

Promessa da canoagem deixa o sul da Bahia para ganhar o mundo


Nascido na 'cidade das canoas pequenas', Isaquias Queiroz superou acidente que o fez perder um rim, venceu o Mundial Júnior e virou esperança para 2016.

Isaquias Queiroz, Mundial Junior canoagem de velocidade (Foto: Divulgação)Isaquias Queiroz conquistou o ouro no Mundial
junior canoagem de velocidade (Foto: Divulgação)
Desde a infância, o Rio de Contas sempre foi sinônimo de caminho mais próximo entre uma cidade e outra. O que Isaquias Queiroz não imaginava é que dentro de uma canoa poderia ir muito mais longe. Agora, as mãos que pareciam talhadas para fazer pães, como o irmão mais velho, remam pelo mundo. O fizeram deixar Ubaitaba, no sul da Bahia, para morar e treinar no Rio de Janeiro. O levaram a países e culturas que nunca pensou conhecer. Fizeram os olhares de adversários se voltar em sua direção depois da conquista do Mundial Junior de canoagem de velocidade.
Aos 17 anos, Isaquias ganhou não só a oportunidade de construir uma vida melhor. Renovou também a esperança da modalidade de formar um medalhista olímpico. O menino que há sete anos entrou no projeto Segundo Tempo do Ministério do Esporte e que foi vencendo todos os campeonatos de categoria, aprendeu desde cedo que é preciso trabalhar muito pelo que se deseja. Viu a mãe sustentar seis filhos fazendo faxina na rodoviária da cidade. Viu os irmãos desistirem do esporte para ajudá-la. Ele seguiu, apesar do acidente que o fez perder um rim. E dá de ombros para as dores que, vez ou outra, teimam em incomodá-lo.
- Caí de uma altura de 2m lá no cais de Ubaitaba. E a queda foi bem em cima de uma pedra. Caí meio de lado e bati na quina. Por sorte um pedaço de pau não atingiu a minha coxa. Como ninguém tinha visto, fui para casa esperar a minha mãe. Não pensei que nada de grave tivesse acontecido. Até que fui ao hospital e eles me encaminharam para uma em outra cidade. Lá fizeram a cirurgia. Depois de um tempo, voltei a jogar capoeira, mas sentia dor depois dos mortais. Parei e fui para a canoagem. De vez em quando eu sinto uma dor, mas bebo água, repouso e tudo fica bem - disse.
Isaquias Queiroz, Sul-Americano canoagem de velocidade (Foto: Ricardo Ramos/CBCa)Isaquias deixou o sul da Bahia e superou a perda de um rim para buscar títulos (Foto: Ricardo Ramos/CBCa)
NomeIdadeEsporteConquistaFrase
Isaquias Queiroz17 anosCanoagem de velocidadeOuro no C1 200m no Mundial Júnior da Alemanha"Esse resultado dá confiança e mostra que há chance de o Brasil ter um campeão do mundo, e quero conseguir isso"
O espírito competitivo é mesmo uma marca de Isaquias. Não gosta de perder nem mesmo no videogame. Mês passado, durante a final A do C1 200m no Mundial Júnior da Alemanha, tinha tanta certeza de que havia ficado com a prata que nem comemorou. Viu a festa do canoísta búlgaro e só pouco depois descobriu que tinha vencido por apenas um milésimo. No mesmo campeonato, ganhou ainda a prata no C1 500m.
- Hoje já sinto a diferença de tratamento. Os atletas dos outros países foram falar comigo. Disseram que eu tenho chance de ganhar uma medalha nas Olimpíadas de 2016. O que sei é que agora tenho que treinar mais. Esse resultado dá confiança e mostra que há chance de o Brasil ter um campeão do mundo, e quero conseguir isso. Já estou pensando no Mundial senior de 2013. De degrau em degrau a gente chega lá.
Isaquias Queiroz - ouro no C1 200m masculino (Foto: Divulgação)Lugar mais alto do pódio em Mundial atraiu olhares
para Isaquias Queiroz (Foto: Divulgação)
A confiança de Isaquias é alimentada por um exemplo vindo do octógono. Anderson Silva é o espelho. E o único capaz de fazer a promessa baiana pensar duas vezes antes de aceitar um desafio.
- Gosto dele pela humildade, pela coragem que tem de enfrentar outros caras fortes. Anderson tem garra e vai para cima deles. Se eu toparia uma luta com ele? Vou não! Deixa quieto! - ri.
Isaquias prefere se arriscar no ambiente em que se sente mais confortável. Nos últimos dias, tem experimentado o clima de Londres, a menos de um ano dos Jogos Olímpicos. Assim que colocou os pés na Inglaterra tratou logo de conhecer a raia onde será disputado o evento-teste. Pretende, assim que voltar, dar uma passada por Ubaitaba. Há dois anos tem dificuldade de arranjar tempo para visitar a família e rever a "cidade das canoas pequenas", seu significado em tupi-guarani.
- Quero passar uma semana lá. Nos últimos anos conheci vários países, tive dificuldades com a língua e a comida, mas nunca pensei passar por tantos lugares. Nem mesmo dentro do Brasil quanto mais fora. Agora estou aprendendo inglês, recebendo do Bolsa-Atleta, morando num apartamento que o COB e a Confederação bancam para mim e mais quatro atletas no Rio. O COB tem dado apoio. As coisas melhoraram. Não sei o que estaria fazendo se não tivesse optado pelo esporte. Acho que seria padeiro como meu irmão. Cheguei a aprender e o ajudava na padaria às vezes - lembra o atleta do Flamengo.
Por: Danielle Rocha, do Globo.com

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