Por: O Globo
A construção do novo autódromo do Rio de Janeiro em um antigo campo de instrução do Exército, em Deodoro, transformou-se numa espécie de “caveira de burro”. Há um ano, o Ministério do Esporte, o estado e a prefeitura prometeram inaugurar o novo circuito em meados de 2014 para substituir o Autódromo Nelson Piquet, desativado no fim do ano passado para a construção do Parque Olímpico, na Barra do Tijuca. Agora, os governos não dão prazo. Isso porque surgiram problemas, no meio do caminho, que até hoje não foram resolvidos: a licença ambiental foi suspensa por decisão judicial. Além disso, há mais de um ano, soldados fazem uma varredura minuciosa no terreno para remover granadas, morteiros e outros artefatos abandonados há décadas no terreno, que mede mais de 2 milhões de metros quadrados."Levando-se em conta o tempo para análise de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima), revisões de projetos após a concessão da licença, bem como prazos para licitações e obras, dificilmente o novo autódromo será aberto antes do fim de 2015", disse o advogado da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), Felippe Zeraik.
Sem pistas no Rio, o campeonato estadual de automobilismo deste ano foi transferido para um circuito privado: Mega Space em Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte. Mas a competição está esvaziada. Em novembro de 2012, 30 pilotos participaram da última prova realizada no Autódromo Nelson Piquet. Na semana passada, só três competidores inscritos no estadual carioca disputaram uma rodada dupla no Mega Space. Sem pilotos suficientes, disputaram baterias que valiam também para o campeonato mineiro.
"A prefeitura do Rio cumpriu a promessa de ajudar pagando duas passagens e diárias de hotel dos competidores. Para as equipes maiores, essa verba não cobre despesas. A maioria optou por correr em outros circuitos, como Interlagos, ou simplesmente parou de correr. Para quem tinha um autódromo de qualidade como o Nelson Piquet, correr no Mega Space equivale a correr numa pista de kart indoor", disse o piloto Paulo Lanfridi Neto, que participou da prova.
O impasse não prejudica apenas os praticantes de automobilismo. O estudo contratado pelo Ministério do Esporte para a implantação do autódromo previa uma série de melhorias urbanísticas no entorno do futuro circuito. As propostas incluíam a urbanização da Favela do Muquiço, abertura de novas ruas e melhorias de iluminação e infraestrutura. No ano passado, o Ministério do Esporte fechou um acordo com o governo do Estado: repassaria recursos para que a Empresa de Obras Públicas (Emop) tirasse o projeto do papel junto com as obras olímpicas previstas para a região. Há dois meses, os planos mudaram: ficou acertado que a prefeitura executaria integralmente o projeto com recursos federais. Mas a Secretaria municipal de Obras não recebeu documentos sobre a área.
Preocupação com segurança
O impasse foi assunto até de uma audiência pública realizada há alguns dias na região, promovida pela Comissão de Trabalho da Assembleia Legislativa. Outra reunião está marcada para 21 de setembro com integrantes de ONGs e da sociedade civil.
"A população tem dúvidas se existem condições técnicas para descontaminar todo o terreno e também se preocupa com a questão ambiental. Na reunião, eles sugeriram o uso de um terreno militar próximo, mas o inconveniente é que a área fica próxima ao Complexo Penitenciário de Gericinó", disse o deputado Paulo Ramos (sem partido), que organizou o encontro.
Antônio Palmeira, líder comunitário em Magalhães Bastos, acrescentou: "A construção do autódromo é importante para revitalizar a área, mas queremos segurança."
Felippe Zeraik acrescentou que a CBA tentará derrubar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) a liminar que impede a realização da obra sem a aprovação de um EIA/Rima. Na última segunda-feira, a 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça manteve a liminar num processo movido pelo Ministério Público do Rio, que suspendeu a licença concedida pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Na ação, os promotores argumentam que o terreno é rico em Mata Atlântica e que não foi feito um estudo detalhado sobre o impacto da obra sobre a fauna e a flora da região. O Inea, por sua vez, considera que não houve irregularidades. Mas, a pedido do Ministério do Esporte, já publicou uma instrução técnica para que seja feito o EIA/Rima. Segundo Felippe Zeraik, o documento está quase pronto e a análise deve levar oito meses. O Comando Militar do Leste não deu prazo para concluir a descontaminação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário